O que você faria se fosse presidente para melhorar o país e o mundo?
Ao perguntar isso a crianças entre 5 e 10 anos que estão em atendimento, escutamos as seguintes respostas: “construiria casas para quem não tem”; “diminuiria os crimes e utilizaria menos matérias primas para fabricar as coisas reutilizando e reciclando mais”; “dominaria o mundo e faria engenhocas para resolver todos os problemas, como um botão para acabar com o coronavírus”; “inventaria uma caixa para amarrar sapatos e os cadarços desamarrados virariam uma coisa do passado, além de uma máquina do tempo... mas pensando bem são os cientistas os que inventam, então como presidente ia ajudar os cientistas”; “eu mudaria o dinheiro para que todos pudessem ter dinheiro”; “eu pararia com a poluição dos rios, com os filmes de terror que assustam muito, colocaria trancas nos bancos e lojas de joias pra não ter roubo e proibiria a fabricação de venenos tóxicos desses para acabar com o mato que fazem mal pra natureza e pessoas, porque matam tudo”; “faria escolas de graça para todos e daria emprego para as pessoas pobres que não têm, porque só dar dinheiro na rua não adianta”; “faria coisas legais” (o que faz lembrar o que é bom e também o que é dentro da lei); “cuidaria das pessoas e dos animais”; “ia dar brinquedo para as crianças e ia querer que todos tivessem o que é bom... casa, roupa, dinheiro, comida”; “inventaria roupas para proteger de raios de destruição de faz de conta, mas na realidade proibiria cachorros de morderem e buscaria todo o lixo que tem no mundo colocaria em um buraco gigante para reciclar, assim tudo poderia ser ao ar livre”. É revelador que todas as crianças, em meio a fantasias próprias da infância, tenham produzido respostas altruístas, que levam em conta as dificuldades dos outros pela pobreza e exclusão social que priva de trabalho, educação e prazeres da vida, revelando condolência com o sofrimento, preocupação com o excesso de consumo que produz lixo e coloca em risco as florestas, animais e a própria espécie humana. Falam da importância da pesquisa científica para resolver problemas e da possibilidade de uma cidadania em que se possa estar e conviver ao ar livre. As futuras gerações estão preocupadas com o que importa, porque sabem que a sua principal herança será coletiva: a sociedade e o planeta que lhes deixarmos. Em um Brasil que volta ao mapa da fome, com a maior hospitalização de bebês por desnutrição nos últimos 14 anos (segundo levantamento da Fiocruz) ao mesmo tempo em que, na outra ponta da infância, sobe vertiginosamente a incidência de suicídios entre adolescentes, testemunhamos redução do orçamento voltado à infância, crescimento da bancada da bala no Congresso e o apoio à diminuição da idade penal. Neste contexto, urge zelar pela construção e reconstrução das condições de cuidado com a infância, com práticas de acompanhamento do desenvolvimento atreladas à estruturação psíquica, promovendo saúde (dos níveis primário a quaternário) pela intersetorialidade com a educação e assistência. A infância não deve ser patologizada, criminalizada e medicalizada depois de ter sido negligenciada direta e indiretamente ao também descuidar de quem dela cuida lançando famílias inteiras ao desamparo e vulnerabilidade.
Diante da gravidade do que temos testemunhado como prática do atual governo, consideramos que está em jogo nestas eleições do dia 30.10.2022 é uma escolha entre a democracia e o totalitarismo; entre uma sociedade com lugar à diversidade e práticas segregacionistas; entre a sustentação da vida e os mandatos mortíferos; entre a civilização e a recorrente violação de direito.
O discurso do atual governo danifica o tecido cultural com vociferações do ódio que ofendem a cidadania enquanto realiza constantes práticas de ataque ao estado democrático de direito, desmontando as políticas públicas que produzem o amparo imprescindível para que os familiares possam cuidar das crianças, os professores possam educar e os profissionais de todas as áreas da ciência e saúde possam avançar com o que é necessário à cura de patologias e à sustentação de práticas de promoção de saúde física e mental.
Por isso, nós da REDE-BEBÊ, dedicada à primeira infância, desenvolvimento e transdisciplina, composta por profissionais e instituições de saúde, educação e assistência, nos manifestamos em defesa da democracia. Tudo o que estimula o crescimento da civilização trabalha simultaneamente contra a guerra - afirma Freud em carta a Einstein, em 1932. O referencial psicanalítico, desde seus primórdios, leva a sério a curiosidade e o brincar das crianças, considerando que os seus sintomas, longe de serem simples transtornos individuais, revelam a chaga do laço social de cada época. Então é preciso escutar o que as crianças estão dizendo, porque, nas palavras delas, como no conto, O REI (OU ATUAL PRESIDENTE) ESTÁ NU!
28 de outubro de 2022 REDE-BEBÊ 1ªInfância, Desenvolvimento e Transdisciplina
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